terça-feira, julho 26, 2005

À PALESTRA COM O SR FELISBERTO


- Então, sr Felisberto? Como vão as coisas por aqui e consigo?

- Bem aparecido, amigo. Longa ausência. É bom vê-lo…

- Calhou desta vez. Estive fora.

- E correu tudo bem, por lá?

- Claro. Corre sempre bem. Mas e por cá? Conte-me lá o que se tem passado…

- Ora, como se o meu amigo não estivesse farto de saber o que se tem passado por cá!...

- Tenho acompanhado, mais ou menos. Mas gosto sempre de o ouvir… Por exemplo: essa de o ministro das finanças se ter demitido…

- Acha que ele se demitiu? Não terá sido demitido?...

- O que se diz é que o homem invocou problemas pessoais e cansaço…

- Mas se a verdade for outra, mais chocante, acha que a vão dizer?

- Bom, pois é, sr Felisberto…

- Então em política não é sempre assim: há o que acontece e há o que se diz que acontece?

- Foi o que aconteceu agora, não?

- Ninguém me tira da cabeça que sim. Repare: dizem que o homem é competente, rigoroso. Que é uma cabeça…

- E daí, sr Felisberto?

- Daí que isso não é qualidade apreciável para certos primeiros-ministros que não gostam que lhes façam sombra na sua ânsia de protagonismo… Mesmo um Sócrates, discreto, não aprecia que o seu ministro seja uma “vedeta”…

- E aconteceu?

- Olhe, li dois jornalistas, há poucos dias, em que um falava do “artigo suicidário do ministro”, num Público recente, acerca dos investimentos no aeroporto da Ota e do comboio ultra-rápido…

- Do TGV…

- Tal e qual. Ora segundo o que eu li, no blogue que o meu amigo tem, dá a impressão que o ministro está impedido de, nas reuniões dos ministros, dizer o que pensa, exactamente, sobre a matéria… Donde que um outro jornalista – aquele que está sempre zangado com toda a gente…

- O Vasco Pulido Valente…

- Esse mesmo. Veio ele, dias atrás, falar na ditadura do primeiro-ministro. Mais precisamente dizia ele que “esta democracia é a ditadura do primeiro-ministro”…

- Então quer o sr Felisberto dizer que foi o Sócrates que correu com o Campos e Cunha?

- Não terá sido dessa forma tão crua… Mas qualquer coisa do género. Deve-lhe ter puxado as orelhas por ter vindo dizer o que pensa para os jornais, sendo que isso que ele (ministro) pensa não é o que ele (primeiro-ministro) pensa. Deve-lhe ter apontado a porta…

- Isso então está mal…

- Mas com certeza que tem de estar. De que serve ter ministros competentes e rigorosos se não se que dar ouvidos a essa competência e não se pretende ser rigoroso?

Toda a gente diz (toda a gente entendida, claro) que é preciso cortar nas despesa pública… O ministro das finanças acha que o investimento nos tais comboios e no novo aeroporto são uma despesa em que não deve pensar-se, pelo menos por ora. Mas o Sócrates, a um ministro sensato, competente e rigoroso, que tem uma opinião correcta, diz-lhe que vá à sua vida. Que ele é que manda.

- Dá a impressão que assim não vamos longe, não é sr Felisberto?

- É claro que não! Se se diz e confirma que estamos a bater no fundo, se se repete que é preciso reformar, mas se o primeiro-ministro dispensa um ministro que quer pôr em prática medidas nesse sentido… Quer dizer que esse primeiro-ministro está a querer seguir a política desastrosa dos anteriores… Ou não será assim?

- Acho que tem razão. Também penso que assim não vamos a lado nenhum. É uma tragédia não termos políticos capazes de dar a volta a isto. É preocupante…

Bom, mas tenho de me pôr a andar. Até mais logo sr Felisberto.

- Vá tranquilo, amigo.

Sem comentários:

Web Site Counter
Office Depot Coupon