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(a imagem tem o toque inconfundível de kaos)
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Querido Pedrinho,
Meu anjo adorado
É fresco, o meu rico, é.
Como soube aproveitar aquela oportunidade de ouro que a SIC lhe ofereceu!
Tive imensa pena, mas não vi: não há nada neste mundo que me arranque da TVI. Mas claro que se soubesse tinha ido dar uma espreitadela.
Foi a Zezinha, do Chico Cansado, que me contou, aquele que foi presidente da Junta, pelo Paulinho da Leninha... Isso, mesmo: aquele que ainda tinha na sala de reuniões da Junta o crucifixo, o saudoso Senhor Presidente do Conselho que Deus haja em sua santa presença e glória, e o general Carmona (o Tomás, realmente, era menos simpático. Mas muito bom senhor, salvo seja), ao lado do actual presidente do Conselho, o Zezito, do Arq Pinto de Sousa e da Adelaidinha que era prima em terceiro grau da Sra Gracinda, que era muito amiga da neta da D. Gertrudes do sr almirante. Também lá está, na mesma parede, a fotografia do Sr Presidente Cavaco, homem de fino trato, proprietário de importantes empreendimentos ligados ao petróleo, no Algarve. Tudo isto explicado pela dita Zezinha (não; esta é outra, tem os dois olhos do mesmo tamanho) que de história e política sabe como tomaram muitos saber.
Ah! Mas foi de truz, o golpe do meu querido. Até se deu aqueles ares de quem é respeitado e quer respeitar. Daquela seriedade que é seu timbre!
Diz que foi um espanto!
Fantástico! Que pena não ter visto.
Mas orgulho-me do meu menino, como se o tivesse presenciado.
Quem me contou tudo foi a Zezinha (não essa que anda à procura da direita), a tal do Chico Cansado. E também a Guidinha (não, não essa que é a escritora preferida de todos os portugueses), a da Zélia cabeleireira, que é cunhada da prima do viúvo da Palmira, a que começou a vender leite, pelas portas e tem hoje uma grande e rica casa, com dois leões de pedra nos pilares do portão e vários cães, de loiça, no jardim.
Meu Deus! O que eu não dava para assistir ao meu querido anjo a malhar na pobre da jornalista, coitada, com aquela autoridade que lhe vem do prestígio e da respeitabilidade que o distinguem.
E sei que se prepara – maroto, não me diz nada dos seus planos – para ser quem manda lá naquilo dos deputados da assembleia nacional...
Há um senhor que já foi medroso e ministro, e falador pelos cotovelos, mas qu’agora é patrão de várias companhias e fala menos, e terá menos medo, que fala com certo desdém do meu rico Pedrinho. Julgo que é o sr Ângelo. E a sra Manuela também parece não gostar muito do meu querido (ainda estou para perceber aquela d’ela dizer que não foi o sr Menezes que ganhou o partido, mas foi o outro - não me lembro agora o nome, um que pisca os olhitos e é mais para o baixote - que o perdeu... Atão a rádio não disse que o sr Lopes ganhou? É porque ganhou, não é?
... Coisas de políticos).
Acho que o meu rico faz bem em não desistir dum lugarzinho confortável, que lhe dê uns escudinhos para tamanhos encargos como os que o querido tem. Sim, qu’eu não duro a vida inteira!
Não que me queixe da ajudazinha que lhe dou – sempre são uns milharzitos – longe disso! Nunca por nunca fora esse o motivo, pois o rico sabe bem que é a única razão da minha existência e que a minha magra pensão e os meus reduzidos rendimentozitos não têm outro destino que ajudá-lo.
Aqui no bairro anda tudo num alvoroço com o sucedido e com o que se promete suceder em breve.
Olhe, meu anjo: que – como se dizia no tempo do nosso saudoso Sr presidente do Conselho – seja tudo a bem da nação.
Receba um beijo enorme desta que nunca o esquece nas suas orações e que o adora
Tia Ambrósia
Meu anjo adorado
É fresco, o meu rico, é.
Como soube aproveitar aquela oportunidade de ouro que a SIC lhe ofereceu!
Tive imensa pena, mas não vi: não há nada neste mundo que me arranque da TVI. Mas claro que se soubesse tinha ido dar uma espreitadela.
Foi a Zezinha, do Chico Cansado, que me contou, aquele que foi presidente da Junta, pelo Paulinho da Leninha... Isso, mesmo: aquele que ainda tinha na sala de reuniões da Junta o crucifixo, o saudoso Senhor Presidente do Conselho que Deus haja em sua santa presença e glória, e o general Carmona (o Tomás, realmente, era menos simpático. Mas muito bom senhor, salvo seja), ao lado do actual presidente do Conselho, o Zezito, do Arq Pinto de Sousa e da Adelaidinha que era prima em terceiro grau da Sra Gracinda, que era muito amiga da neta da D. Gertrudes do sr almirante. Também lá está, na mesma parede, a fotografia do Sr Presidente Cavaco, homem de fino trato, proprietário de importantes empreendimentos ligados ao petróleo, no Algarve. Tudo isto explicado pela dita Zezinha (não; esta é outra, tem os dois olhos do mesmo tamanho) que de história e política sabe como tomaram muitos saber.
Ah! Mas foi de truz, o golpe do meu querido. Até se deu aqueles ares de quem é respeitado e quer respeitar. Daquela seriedade que é seu timbre!
Diz que foi um espanto!
Fantástico! Que pena não ter visto.
Mas orgulho-me do meu menino, como se o tivesse presenciado.
Quem me contou tudo foi a Zezinha (não essa que anda à procura da direita), a tal do Chico Cansado. E também a Guidinha (não, não essa que é a escritora preferida de todos os portugueses), a da Zélia cabeleireira, que é cunhada da prima do viúvo da Palmira, a que começou a vender leite, pelas portas e tem hoje uma grande e rica casa, com dois leões de pedra nos pilares do portão e vários cães, de loiça, no jardim.
Meu Deus! O que eu não dava para assistir ao meu querido anjo a malhar na pobre da jornalista, coitada, com aquela autoridade que lhe vem do prestígio e da respeitabilidade que o distinguem.
E sei que se prepara – maroto, não me diz nada dos seus planos – para ser quem manda lá naquilo dos deputados da assembleia nacional...
Há um senhor que já foi medroso e ministro, e falador pelos cotovelos, mas qu’agora é patrão de várias companhias e fala menos, e terá menos medo, que fala com certo desdém do meu rico Pedrinho. Julgo que é o sr Ângelo. E a sra Manuela também parece não gostar muito do meu querido (ainda estou para perceber aquela d’ela dizer que não foi o sr Menezes que ganhou o partido, mas foi o outro - não me lembro agora o nome, um que pisca os olhitos e é mais para o baixote - que o perdeu... Atão a rádio não disse que o sr Lopes ganhou? É porque ganhou, não é?
... Coisas de políticos).
Acho que o meu rico faz bem em não desistir dum lugarzinho confortável, que lhe dê uns escudinhos para tamanhos encargos como os que o querido tem. Sim, qu’eu não duro a vida inteira!
Não que me queixe da ajudazinha que lhe dou – sempre são uns milharzitos – longe disso! Nunca por nunca fora esse o motivo, pois o rico sabe bem que é a única razão da minha existência e que a minha magra pensão e os meus reduzidos rendimentozitos não têm outro destino que ajudá-lo.
Aqui no bairro anda tudo num alvoroço com o sucedido e com o que se promete suceder em breve.
Olhe, meu anjo: que – como se dizia no tempo do nosso saudoso Sr presidente do Conselho – seja tudo a bem da nação.
Receba um beijo enorme desta que nunca o esquece nas suas orações e que o adora
Tia Ambrósia
3 comentários:
Pois... E ri-me com a ironia.
Excelente texto irónico, tem mesmo muita piada.
Venho desejar-te um Feliz Natal com tudo o que de bom ambicionares.
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