sábado, janeiro 29, 2005

CARTA DA TIA AMBRÓSIA AO TONINHO

Querido Toninho
(espero que não me leve a mal que, hoje, o trate assim, com o meu habitual carinho).

É que hoje o querido chegou ao vértice da pirâmide : já foi presidente de várias coisas importantes, e é o Presidente do Conselho (como antigamente se chamava ao Senhor Professor Doutor Oliveira Salazar, coitadinho, que tanta falta nos faz e que Deus haja na sua santa presença e em eterno descanso).

As saudades que eu tenho daquelas tardes em casa da tia Epifânia, que era muito amiga da sua Mamã, e tia e madrinha do Rodriguinho. Que o Rodriguinho também é um rico menino, não desfazendo. Deus o proteja.

O que esse menino tem sofrido! Tão ajuizadinho que ele sempre foi. E tão certinho: sempre o vi só com rapazinhos. Nada de fraldiquices! Nada de raparigas, que são umas galdérias (ai as do meu tempo...) . Só não gostei nada que ele uma vez tenha convidado para uma viagem ao estrangeiro essa tal… (ai como se chama ela? Si… Não… Ah! Espere aí: Si… Não sou capaz de me lembrar!...) Ah! Já sei: Silvinha. É isso. Filha de uma grande família, diga-se, mas coitada… Deus a ajude.

O Toninho desculpe, parece-me que também rondou por lá! Ai o maroto!

Sempre foi muito dado a essas marotices, o rico. Mas sempre muito respeitador e muito temente às leis do Senhor – Que Deus o acompanhe e o guie!

Ainda há dias encontrei a Eduardinha, e ela , coitadinha, lá desabafou: que o Nelinho a desgosta muito por andar metido com aqueles filhos de Satanás! Que o Rodriguinho, sim : tinha uma vida exemplar, muito inteligente, muito certo (nada de extravagâncias e de mulheres) e um futuro brilhante! O que ele ouve da boca desses comunistas todos – que Deus lhes perdoe – como esse tal Pascoal – que um dia lhe escreveu uma carta cheia de mentiras - e o Mário Soares, que - imagine-se bem! – teve o desplante de, aqui já há tempo (há anos, penso), dar uma roda de garoto ao Rodriguinho e insinuar um “cresça e apareça”!!! Ele - o Rodriguinho, claro -, que é tão maduro, tão responsável! Que desaforo! Só mesmo dum comunista.

Imagine-se que até o Dioguinho (que eu conheci tão bem uma prima dele que foi do Movimento Nacional Feminino – o Toninho mal se deve lembrar desses patrióticos movimentos que havia no tempo do saudoso Salazar, embora se tivessem mantido um bocado, mesmo depois, no tempo do Caetano, que também já era um bocado comunistóide), mas dizia eu que até o Dioguinho virou comunista!!! Pode lá ser?! Este mundo está perdido. Deus o abençoe e o salve!

Toninho, eu queria principalmente dizer-lhe que estou com o rico, como estou com todas as pessoas capazes, verdadeiras, leais, competentes, dedicadas e entregues ao bem do nosso povo, tementes a Deus, constantes, organizadas, destemidas e sem pieguices, persistentes e politicamente sérias, como é o Toninho. Que Deus o acompanhe!

Um beijinho grande daquela que sempre foi muito sua Amiga e a quem o rico sempre chamou de

Tia Ambrósia

sexta-feira, janeiro 28, 2005

SPORTING E BENFICA MUDARAM DE NOME


Fiquei um tanto surpreendido: o Sporting e o Benfica mudaram de nome, depois de durante décadas assim serem conhecidos. Foi o que constatei antes d'ontem. Esperava ouvir o locutor referir-se ao derby “Benfica/Sporting”, a contar para a taça, que então decorria; mas não. Mencionou os dois clubes desta forma: “este Benfica Um/Sporting Dois”.

Sinal dos tempos, esta constante mutação: novas tecnologias, novas marcas, novos nomes, novas referências. Um devir cada vez menos perscrutável e sempre mais incerto.

Quem podia imaginar que os velhos Sporting e Benfica, na noite duma fria Quarta-feira, do Inverno de 2004/2005, viriam a passar a ser designados de “Sporting Dois” e ”Benfica Um”, e não apenas Sporting e Benfica, como sempre foram conhecidos?

Modernices!

terça-feira, janeiro 18, 2005

ENTREVISTA IMAGINÁRIA

Finalmente, no espaço noticioso do canal televisivo, o Prof P e o jornalista, seu entrevistador, estão no ar.

O jornalista apresenta “o Prof P, sismólogo especializado em tectónica, que nos irá elucidar sobre a magna questão que se nos coloca agora, de novo, na sequência dos recentes e trágicos acontecimentos do sudeste asiático, no Domingo 26 de Dezembro último, um sismo que registou 8,9 graus na escala de Richter, que é de 9 pontos, com epicentro na ilha indonésia de Sumatra, mas que se fez sentir em todo o Oceano Índico, sul da Ásia e costa oriental de África, e a que se seguiu um devastador tsunami (nome científico de maremoto), com vagas gigantescas que chegaram a atingir vinte metros de altura; desastre natural que vitimou várias dezenas de milhares de seres humanos – crê-se que várias centenas de milhares (entre mortos, feridos, desaparecidos e desalojados), que assolou e destruiu inúmeras cidades, estâncias de veraneio e ilhas do sudeste asiático, submergindo muitas destas”.

Jornalista: boa noite, Prof P. Os acontecimentos que acabo de referir são dramáticos e aterradores. Poderá a tectónica, no seu actual estado de desenvolvimento do conhecimento científico, prever uma catástrofe desta natureza?

PROF P: a única certeza que temos é que há zonas, no nosso planeta, mais sensíveis que outras nesta matéria. Sabemos, ainda, que é na fronteira das placas…

Sim, Prof. Mas existem os sismógrafos e as entidades encarregadas de intervir neste âmbito dos sismos, como a nossa “protecção civil…” Continuamos sem qualquer hipótese de prevenção nesta matéria?

Pois… Como estava dizendo, é na zona limítrofe das placas que se produzem os sismos mais devastadores e…

Nem sequer duma forma mais alargada existe a possibilidade de prever tais fenómenos e de prevenir os seus efeitos?

Bom, mas essa previsão mais alargada, como diz, é exactamente aquela a que me referia há pouco…

Sobre a localização das placas, parece que a comunidade científica já avançou até um estádio considerado satisfatório… Mas acerca do movimento dessas placas, Prof, como e quando se poderá ele prever?

É que, além do movimento dessas placas, há ainda que considerar as suas frequentes e múltiplas…

Mas, Prof, se esses movimentos são previsíveis, provavelmente também poderão ser prevenidos quanto às sua consequências, não será assim?

Não tanto quanto seria desejável. Mas, para se perceber melhor, voltemos um pouco atrás: falava eu das falhas tectónicas já localizadas, acontecendo, contudo, que tanto nessas falhas, como…

Desculpe interrompê-lo, Prof. É que o drama é exactamente esse: sabemos que zonas como a do Algarve, e Lisboa, e o vale do Tejo – isto para só falar nalguns exemplos nacionais – se encontram próximas de grandes falhas. Sabe-se que essas placas estão em constante movimento, e a ciência não nos consegue apresentar resultados que permitam uma mais próxima e exacta previsibilidade acerca desses fenómenos?

Nestas matérias não é fácil, e por vezes é mesmo impossível, responder pela simples afirmativa ou negativa. Mas se me deixar continuar o raciocínio anterior…

Faz favor, Prof P. Na verdade, talvez possamos entender que uma questão, posta, possa ser muito linear, mas que a resposta o não possa ser tanto assim…

Dizia eu que é preciso ter em conta as múltiplas e frequentes rupturas das falhas…

Desculpe, prof, mas, pelo que me parece, as consequências do maremoto foram muito mais graves e devastadoras do que as do sismo…

Como estava tentando explicar, o mecanismo físico que gera um sismo está bem estudado. Tal como é bem conhecido o fenómeno que gera um tsunami. Contudo…

Se pretendêssemos transpor para os nossos dias a análise do terramoto de 1755, que resultados apresentaria essa análise? Por exemplo, qual teria sido a sua magnitude em termos da escala de Richter?

De acordo com os conhecimentos alcançados, hoje, em matéria sismológica e geodésica, a tecnologia de que dispomos permite determinar, com rigor e fiabilidade, esses valores. Assim…

Muito obrigado, Prof P pelo valioso contributo que prestou, neste espaço noticioso, com as suas análises e os seus comentários. Até uma próxima oportunidade.



De si para si, pensaram:
o jornalista: acho que me correu muito bem a entrevista. Creio que estive bem à altura do que se podia esperar de mim, e demonstrei conhecimento do dossier. Fiquei satisfeito, correu-me muito bem. Brilhei.
O cientista: e perdi eu mais de duas horas do meu precioso tempo para uma entrevista de cinco minutos em que não me deixaram dizer nada…
O telespectador: não percebi bem quem era a estrela – o dito professor ou o jornalista?
Pensava eu que o professor é que devia falar… A ele é que devia dar-se destaque… Mas o jornalista não o deixou falar… Até parecia que era ele a estrela!... O certo é que fiquei na mesma, e não devia ser essa a intenção do programa.

domingo, janeiro 16, 2005

UM MOMENTO, POR FAVOR

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