A OAIOLÉ, Ordem dos Arrumadores Independentes Observadores da Lei e da Ética, conseguiu, depois de negociações ao mais alto nível, ser admitida na Concertação Social.
“Desconversando” (D)quis saber quem eram os mais altos responsáveis da nova entidade. Numa sala cheia de pauzinhos com cerca de um dedo de grossura e uns
D – A vossa sigla refere “Observadores da Lei e da Ética”…
FC – … Não diga mais… É a dúvida de todos os que nos entrevistam. Nós não podíamos encher uma linha completa com o acrónimo (sim, que eu sei o que é um acrónimo – ensinou-me um cliente meu, um doutor, que tem comigo uma avença mensal, uma azulinha todos os meses). Claro que a Lei é a lei que todos observam e cumprem religiosamente: a lei do menor esforço e do desenrascanço. Somos sinceros e não andamos aqui para enganar ninguém…
D - … Ética!?
FC – Essa agora… Então não havemos de ter a nossa Ética (foi outro doutor que nos explicou a palavra e o sentido. Esse é cliente do “Ajeitadinho” e dá-lhe todos os dias, por duas vezes, uma douradinha das maiores, de cada vez). Claro que temos a nossa ética: respeitamos os direitos adquiridos dos nossos associados e dos concorrentes encartados. Mas, como já lhe expliquei antes, não podíamos era estar a “consagrar” (como diria um deputado) tudo no nosso anacrónimo!!! (Palavra bonita e erudita, esta!)
D – Esse é o “Ajeitadinho”… O meu amigo…
FC – Sou o “Inteligente”. São eles a gozar-me: andei quatro anos na segunda classe e desisti, dizendo que já sabia demais…
D – Entendi. E como está organizada a Ordem?
FC – Como todas as instituições que se prezam, com um organigrama (foi um engenheiro de minas, também nosso cliente, que nos ensinou essa palavra), um organigrama que cobre todas as áreas de actividade…
D – E o bastonário, quem é?
FC – O Picadinho (parece que tem bexigas, mas não). O nome dele de pia (somos todos baptizados e tementes a Deus) é Zófino. Subiu a pulso na vida, sempre guiado pela imagem do PC do Porto, do Major, do Torres…
D - …???
FC - … Não, não é o do Benfica, é o do Marco, e ainda pela do dono da Madeira.
D – Tudo gente de barba rija, já vi…
FC – Atão, não? Caraças!!!
D - …
FC – E o vice-bastonário é o Teobolino Silva, o “Morcão” (chamam-lhe o “Morcão” por ser afilhado do presidente do Fê Cê Pê)… Mas, espere aí: é do Desconversando, não é?
D – Sim, e daí?
FC – Olhe o “Travessuras”, que é vosso colaborador (que puto mais reguila e baril!), também faz parte dos nossos corpos directivos. Esse até acumula, neste momento duas direcções: é o DI – Director de Informática; e o DILEMAS – Director para as Ligações com os Elementos das Múltiplas Agremiações Semelhantes.
D – Ah! Mas vocês estão superorganizados!...
FC – Atão que julga que é isto? E vamos querer uma reforma aos 40 anos!...
D - …?
FC – Sim. Imagina lá o que é um gajo passar uma data d’horas seguidas c’o pauzinho na mão a-dar-a-dar… Com’um pêndulo!... É d’um gajo se passar!...
Depois, as pessoas que não nos compreendem… Que não vêem c’a gente tá ali é p’r’ajudar o pessoal… Algumas que têm o arrojo de dar só uma moedita mecheruca, outros nem isso… Há lá alguém que trabalhe de borla para alguém?
Veja bem, qu'até jagunços nos chamam!
Como se fôssemos uns vadios caisqueres...!
Uma injustiça!... E uma desconsideração!...
D - …
FC – Depois há aqueles putos e alguns ranhosos que chegam ali à nossa área de trabalho, sacam do canudo de cartão do rolo de papel da cozinha (nem instrumentos têm à altura, quanto mais formação profissional!), e a dez metros d’a gente prantam-se a orientar os nossos clientes! Não há respeito pela antiguidade no posto, não há regras, não há ética, não há nada. Lá temos de chamar o nosso Conselho Disciplinar e dar-lhes um enxugo de porrada e pô-los todas a cavar. Malcriadôes! Bando de parasitas!...
D – É complicado, não é? Bom, mas vamos ter de ficar por aqui, hoje. Mas temos de voltar à conversa… Certo?
FC – Ó amigo! Teja à vontade. Quando quiser.
1 comentário:
Ahahahahahahah Diálogo muito bem esgalhado!!!! Adorei!!!!
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