sexta-feira, abril 22, 2005

À PALESTRA COM O SR FELISBERTO


- Então, sr Felisberto: gosta do novo papa?

- Olhe, nem sei. Do cardeal que ele foi, pelo que li e ouvi, não gostei. Do papa? Ainda não deu para avaliar.

- Mas, que me diz dele?

- Para já, ou se fala do que já se conhece, ou nos pomos a adivinhar. Como não adivinho, digo-lhe do que sei, até agora. E até agora só posso dizer o mesmo que lhe dizia do outro…

- ?

- Quer o anterior quer este, (este, repito, pelo que dele se conhece até aqui) mergulhados nas suas ideias e nos seus preconceitos, estão neste mundo, mas de costas voltadas para ele…

- Mas esperava que a Igreja desse uma cambalhota?

- Claro que não. Tanto quanto sei, de há muito, muito tempo, os papas antes foram cardeais, estes antes foram bispos. E qual é o padre que chega a bispo, qual é?
Não é o padre (há um ou outro, poucos) mais atirado para a frente, mais progressista, mais disposto a, como homem deste tempo, resolver os problemas de hoje, que chega a bispo. Geralmente são os padres mais conservadores que chegam a bispos… Ou não é assim?

- Parece que é…

- Pois é. Ora desses bispos conservadores (nova escolha), os mais conservadores é que chegam a cardeais… Não será?

- Acho que tem razão.

- Se, por engano, algum cardeal não for conservador, como é que ele sozinho… (são precisos muitos votos para eleger um papa, não são?)

- Sim. Dois terços dos votos, pelo menos. O que agora dava 77!

- Ora pronto. Dizia eu: se por puro engano algum padre não conservador tivesse chegado a bispo, e se esse bispo tivesse passado o crivo – por milagre, naturalmente – e tivesse chegado a cardeal, como é que ele, sozinho, conseguia eleger um papa arejado? Sim, que com esse tal, agora, já não se repetia o engano: não era mesmo eleito.

- Assim, não há mesmo volta a dar-lhe!...

- Mas claro que não. Isto é uma teia em que eles próprios se enredam, então não se está a ver?
A gente esquece-se de uma coisa: a Igreja sempre esteve arrimada aos ricos e aos poderosos, a partir de Cristo. E os poderosos não apreciam, não suportam progressismos.
Olhe, sabe? Ele há aí um padre – melhor, ele é frade; não sei de que ordem, mas sei que se chame Bento Domingues – esse padre escreve aos Domingos no Público. Leio-o sempre. E leio-o porque ele tem um sermão diferente dos outros. (Eu estou a dizer sermão… Maneira de dizer. Ele escreve, e sem estilo de sermão). No fundo ele acha que a Igreja devia ser capaz de ouvir e discutir os tais problemas da actualidade: o casamento dos padres; as mulheres e o reconhecimento da sua valia, da igualdade; o preservativo e a sida; o aborto em certas circunstâncias; o direito de uma pessoa a quem foi dito: não há mais nada a fazer! O direito de essa pessoa poder decidir não sofrer mais e não fazer sofrer os outros, decidir acabar e ter colaboração para isso… Eu sei lá que mais!... (Algumas coisas destas têm nomes, mas eu não me lembro deles…)

- Nem são precisos. A gente entende que fala do celibato, da eutanásia, da ordenação das mulheres… Entende-se tudo. O invólucro não interessa, o que conta é o que está lá dentro.

- Também acho que sim. Mas dizia eu que esse padre – ou frade, melhor dito – é uma excepção. Não me parece que ele se encolha muito para discutir os assuntos mais quentes. Claro que um padre destes está bem longe de alguma vez poder vir a ser bispo! Quanto mais papa!

- Sei de quem fala. Também julgo que nem por milagre lá chegaria alguma vez.

- Mas oiça: o homem – o papa, quero dizer – ainda agora lá chegou. Imagine que o Espírito Santo existe e que o toca!!!
Olhe, lembrei-me agora: li no jornal que esse mesmo frade, Bento Domingues, disse que o cardeal (disse o nome dele, que é alemão, não me lembro qual é), disse que o cardeal morreu. Que agora temos o papa Bento… 16, se estou certo.

- É, é isso.

- Mas eu sei cá?! Pode acontecer. Nem deve ser preciso esperar muito tempo para apurar o assunto (até porque ele já vai com uma idadezita…). Tenhamos calma. É melhor falar depois de ver se o papa é ou não o mesmo que o cardeal que ele foi… Certo?

- Certo. Acho que sim. Vamos então esperar um tempo. Gosto sempre de o ouvir, sr Felisberto. Tenho que me ir chegando. Até mais ver!

- Vá tranquilo, Amigo.

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